quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sobre a revolta.


Quem me segue no Twitter ou me tem como amigo no Facebook sabe que eu fui assaltado ontem a noite, entre 19:30 e 19:45, no ônibus “frescão” da Paranapuan, Castelo-Bananal, que custa R$ 6,50, porque tem mais conforto e “segurança”. Felizmente, eu estou bem


Na mesma noite também teve um ônibus sequestrado na Avenida Presidente Vargas, com alguns feridos, mas onde os bandidos foram capturados. Mas eu resolvi escrever esse texto para falar o que me deixa revoltado.


Terem levado meu iPod que eu trabalhei tanto para comprar. Ok, é apenas um tocador de música, mas já é o segundo que me roubam. O primeiro foi presente de formatura. Roubaram. O segundo eu comprei com meu dinheiro. Perdi também.


O choro da senhora que estava com o marido, ambos bem humildes, que tinha acabado de comprar uma TV LCD 26”, estava levando pra casa, talvez de presente pros filhos, e preferiram ir de “frescão” (R$ 6,50, diante de um normal que é R$ 2,50) porque é mais “seguro”.


A sensação de invasão e de violência, pois, por mais que ninguém tenha sido agredido fisicamente, você ver o fruto do seu trabalho sendo levado por um estranho é tão impactante quanto um tapa na cara.


A certeza da impunidade, pois a nossa polícia é fraca, mal paga, mal organizada, mal treinada e, não generalizando, mal intencionada. Até porque tinha uma guarita da PM a menos de 100m de onde os ladrões desceram com apenas um policial, que estava dormindo, e sem nenhuma viatura disponível.


A estupidez do nosso sistema frente à organização dos bandidos. Depois q eu relatei o meu assalto, um monte de gente comentou sobre amigos que também foram assaltadas essa semana e semana passada, por ser começo de mês e época de pagamento de salário. E os bandidos já colocam dois homens dentro do ônibus e um terceiro de carro seguindo o ônibus desde o Centro até a Linha Vermelha.


A infelicidade de ter amigos que sustentam esse mundo de bandidos, ladrões e traficantes. Afinal “ah bicho, só um baseadinho não faz mal, né?”. Eu repito meu pedido a esses amigos: Quando vocês forem lá comprar seu beckzinho ou seu pozinho pra curtir na boatchi, pergunta pro cara da boca se ele não tá com o meu iPod. Ou com a TV do casal.


A ignorância das pessoas que bradam “país de merda”, mas esquecem que elas são as responsáveis por esse mesmo país. Atentem que “ignorância” não é sinônimo de burrice. Ignorância vem de “ignorar”, de não ligar, de não fazer questão de saber quem é candidato decente, quem tem boas propostas, quem realmente quer mudar o seu país, seu estado, sua cidade, ou até mesmo seu bairro. Essas pessoas preferem votar no cara que “meu pai falou que é bom” ou no que “prometeu um emprego de 5k/mês que eu nem preciso ir todos os dias.”


A falta de esperança de que isso possa mudar tão cedo, pois eu tenho certeza que eu não vou viver pra ver um Brasil decente. Meu filho também não. Talvez meu neto, SE começarmos a mudar esse cenário HOJE! Pois em vez de escolhermos o representante da educação e do futuro, elegemos o prefeito da cidade da música ou o do Pan, o governador das Olimpíadas ou o presidente da Copa, dando poder e dinheiro para quem não tem capacidade (ou vontade?) de mudar o atual contexto político-social.

Se você leu até aqui, parabéns. Você provou não ter preguiça mental. Se você concorda ou discorda, já são outros quinhentos. Terei o maior prazer de ler seus contra-argumentos nos comentários abaixo.