Uma pessoa
contou para outra pessoa que contou para outra pessoa que contou pra mim a
seguinte história:
Na época da
ditadura, uma famosa revista do Brasil foi obrigada pelo governo a colocar dois
censores dentro da sua redação.
O trabalho deles
era filtrar toda e qualquer informação que fosse contra a doutrina militar.
E assim durou
por alguns anos. Os jornalistas tentavam relatar uma notícia, mas os censores
iam lá e cortavam algumas partes, alteravam alguns trechos e até proibiam certos
conteúdos.
Em um dado
momento, um dos donos da revista pediu para que o editor-chefe ficasse amigos
dos censores, para tentar aliviar a censura, dar aquela “afrouxada amiga” e
fazer vista grossa para algumas coisas.
Mas a censura
continuava, as matérias iam sendo podadas, os jornalistas iam se revoltando
cada vez mais, mas de nada adiantava.
E, como em
qualquer revista, os jornalistas precisavam escrever suas matérias e os
exemplares precisavam ir pra rua pra vender.
Um certo dia, os
censores avisaram o editor-chefe que iam sair da revista. Esse editor perguntou
para eles, quem viria para ficar no lugar e eles foram objetivos na resposta:
ninguém.
Curioso, o editor-chefe
indagou por que não haveria mais censores, já que os militares ainda estavam governando no país com mão de ferro.
Eis que um deles
respondeu: no começo, a gente precisava censurar antes das matérias irem para as
ruas. Os jornalistas ficavam bravos, reclamavam, davam "pití" mas tinham que obedecer. Com o tempo, eles
foram criando o hábito de escrever suas matérias já pensando na censura. Pouco depois, a gente nem precisava filtrar, pois os textos já vinham do jeito que a
gente queria. Agora, tudo que é escrito, já vem censurado pelo próprio jornalista.
E assim ainda acontece no dia a dia de muitas agências.