Ele ainda era um daqueles últimos românticos
que acreditava em encontrar sua alma gêmea no metrô ou no ônibus, numa
quinta-feira de chuva, indo pro trabalho.
Ele não sabia como ela seria. Alta, baixa, loira, morena, olhos claros ou castanhos.
Só havia uma certeza sobre ela: estaria lendo o mesmo livro que ele.
Ele já havia imaginado aquela cena de
diversas maneiras. E tudo começaria pela capa.
Ele estaria lendo “20.000 léguas
submarinas”, ela também, eles dariam uma risada ao reparar nos seus livros, ela
perguntaria se ele está gostando, ele diria que sim, ele perguntaria se ela já
chegou na parte que aparece a lula gigante, ela diria que não, ele pediria
desculpa pelo spoiler, ela responderia que ele poderia se desculpar pagando um
café para ela e, a partir daí, começaria a ser escrita uma nova história.
Ou então, ele estaria lendo um clássico de
Shakespeare, “Romeu e Julieta” talvez, ela também, eles dariam risada ao
reparar nos seus livros, ele perguntaria se ela está gostando, ela diria que
sim, ela perguntaria se ele acredita em amor à primeira vista, ele responderia
que não acreditava até aquele momento, ela daria um risinho tímido, ele se
apaixonaria pelas suas covinhas e, a partir daí, começaria a ser escrita uma
nova história.
Ou, quem sabe, ele estaria lendo a
biografia do Metallica, ela também, eles dariam risada ao reparar nos seus
livros, ele perguntaria se ele está gostando, ele responderia que sim, ele
perguntaria se ela já foi a um show deles, ela responderia que sim, mas sempre
sozinha porque era a única do seu grupo de amigos que gostava de Metallica, ele
falaria que tinha dois ingressos pro próximo show dele, ela aceitaria o convite
e, a partir daí, começaria a ser escrita uma nova história.
E foi naquele dia, naquela quinta-feira
chuvosa, que ele acordou com uma sensação diferente, uma sensação de que algo
surpreendente iria acontecer.
Colocou seu livro “O Rei do Inverno” na
mochila, saiu de casa, andou até o metrô, entrou no vagão mais perto da escada
e olhou para as 3 mulheres ao seu redor.
Uma estava com um Kindle, outra com um Kobo
e a terceira, que estava mais perto, com um iPad.
Todas estavam lendo, mas, sem as capas,
nunca saberemos qual história.