segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Apenas um mergulho...


Tem praias que você deve entrar na água aos poucos.

Marca um tempo na areia, olha as ondas, a profundidade,
Tenta imaginar até onde você pode nadar ali com segurança.
Vai entrando aos poucos na água.
Confere a temperatura, se a água te puxa, se está muito salgada.
Procure por sinalização de “Perigo, Correnteza”
Quando você estiver bem seguro, tenta mergulhar.
Se você for corajoso e não tiver medo, pode até se jogar de cabeça.
Mas cuidado. São sempre grandes as chances da onda te pegar.
Ela vem com força, você nem sente e quando percebe...
O mar te atrai com suas águas calmas na beirada,
Convidando para ir cada vez mais fundo
E você acha que, a qualquer momento, consegue sair da água.
Dá uma remada de lado, curte um pouco e acha que já pode pegar onda.
Mas o mar é traiçoeiro. Você não sabe se pode confiar nele.
Você nunca sabe até onde pode nadar, até que passe esse limite.
Quando você sabe que nadou até além do seu limite,
Pode ser que não tenha volta, que a correnteza te puxe cada vez mais.
Você pode nadar com toda a sua força e não sair do lugar.
Mas aí você começa a pensar “Será que eu quero voltar à terra?”
Você não tem certeza do que quer. Aquele lugar está confortável.
Voltar é difícil e ali você está bem, a água está do jeito que você quer.
Mas você sabe que tem que voltar se esforça novamente para não ficar no fundo.
Seus braços cansam, suas pernas não respondem,
Sua mente pensa com uma energia que você nem sabe de onde veio
“Agora falta pouco...” e você dá as braçadas finais até chegar na areia.
Quando você chega, senta na beirada da água e fica pensando.
“Ali não estava ruim. Será que eu fiz a coisa certa de ter saído de lá?”
E sua mente vai ser perdendo entre pequenas ondas que tocam seus pés.
Leves marolas que parecem estar apenas cutucando, te chamando de volta à água.
Você volta? Você não volta? Você se arrisca novamente? Você foge?
Você sabe o que pode acontecer, mas pode ser que agora seja diferente.
Você arrisca? Você prefere a segurança?
O que você faz?
O que você faz?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Eu nunca...

Eu nunca fui o mais alto, mas também nem fui o mais baixo.

Eu nunca fui o mais magro, e longe de ser o mais gordo.

Eu nunca fui o mais forte, tampouco o mais fraco.

Eu nunca fui o mais rico, nem nunca passei fome.

Eu nunca fui o mais inteligente, mas tinha sempre boas notas.

Eu nunca fui o mais engraçado, porém sempre fazia alguém rir.

Eu nunca fui o mais popular, e nunca me faltaram amigos ao redor.

Eu nunca fui o mais correto, mesmo sem nem querer ser o mais errado.

Eu nunca fui bom com palavras, mas até que esse texto não ficou tão ruim.

Eu nunca fui quem eu mais queria ser, e juro que não queria ser diferente.

Eu nunca fui o mais acomodado com a vida, enquanto a vida queria me acomodar.

Eu nunca fui o mais simpático sem precisar, apesar de precisar e escolher não ser.

Eu nunca fui o mais simples, mesmo sem querer parecer sempre complicado.

Eu nunca fui o mais extrovertido, desejando não ser o mais tímido.

Eu nunca fui o mais religioso, embora não acredite em ceticismo.

Eu nunca fui o mais normal, pois maluco é quem achou que esse texto ia fazer algum sentido em algum momento.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Haicai - Luiz Tatit

Vai muito pra série "Eu queria ter escrito isso!"

Quando fiz de tudo poesia
Pra dizer o que eu sentia
Fui mostrar
Ela não me ouvia
E mesmo
Insistindo todo dia
Era inútil
Não me ouvia
Sofia! Sofia!
Não ouvia
E não havia
O que fizesse ela atender
Sempre dispersiva
Sempre muito ativa
Sofia é do tipo que não pára
Não espera e mal respira
Imagine se ela vai ouvir poesia!
Sofia, escuta essa, vai
É pequena
É um haicai

Por fim
Noite de lua cheia
Prometeu que me ouviria
Bem mais tarde às onze e meia
Nunca senti tanta alegria
Mas cheguei
Ela já dormia
Sofia! Sofia!
Não ouvia
E não havia
O que fizesse ela acordar
Sofia quando dorme
Sente um prazer enorme
Fui saindo triste abatido
Tipo tudo está perdido
Imagine agora a chance que me resta
Pra pegá-la acordada
Só encontrando numa festa

Então, liguei de novo pra Sofia
Confirmando o mesmo horário
Mas numa danceteria
A casa de tão cheia
Já fervia
E ela dançando
Nem me via
Sofia! Sofia!
Não ouvia
E não havia
O que fizesse ela parar
Sofia quando dança
Pode perder a esperança
Mas eu tinha que tentar:

Sofia
Estou aqui esperando
Pra mostrar pra você
Aquela poesia, aquela, lembra?
Que eu te lia, te lia, te lia,
E você não ouvia, não ouvia, não ouvia
Hoje é o dia
Vem ouvir vai
Ela é pequeninha
Parece um haicai
E foi feita especialmente
Sofia, eu estou falando com você
Pára um pouco
Vamos lá fora
Eu leio e vou embora
Ou então aqui mesmo
Te leio no ouvido
Se você não entender
A gente soletra, interpreta
Etc, etc, etc...
Nada, nada, nada, só pulava
Não ouvia uma palavra

Aí já alguma coisa me dizia
Que do jeito que ia indo
Ela nunca me ouviria
Essa era a verdade crua e fria
Que no meu peito doía
Sofria, sofria!
E foi sofrendo
Que eu cheguei
Nessa agonia de hoje em dia
Fico aqui pensando
Onde é que estou errando
Será
Que é o conceito de poesia
Ou é defeito da Sofia?
Ainda vou fazer novos haicais
Reduzindo um pouco mais
Todos muito especiais
Sofia vai gostar demais!